O demônio divide, Deus une

Há mais de vinte anos que Nossa Senhora aparece todos os dias em Medjugorje, Bósnia-Herzegovina.

Nunca houve em toda a História da Igreja aparições tão demoradas como estas.

No dia 25 de junho de 1981, Nossa Senhora apareceu a 6 jovens: Mirjana, Maria Pavlovic, Ivan, Ivanka, Jakov e Vicka. Desde então, Medjugorje tornou-se uma escola de oração, conversão, paz e reconciliação para milhões de pessoas. A mensagem de Medjugorje exorta os fiéis a participarem da Eucaristia diariamente, à Confissão mensalmente, a rezar todos os dias três horas, de modo particular o Rosário, a ler diariamente a Bíblia e a jejuar a pão e água, nas quartas e nas sextas-feiras.

O título com que Nossa Senhora aparece em Medjugorje é o de Rainha da Paz. A palavra MIR que, na língua croata quer dizer Paz, apareceu no céu para admiração de muitos. Nessa altura, ainda estávamos a cerca de 10 anos da guerra que haveria de eclodir naquela região e ninguém imaginava o que iria acontecer. Deus, porém, na Sua infinita sabedoria e misericórdia, revelou-o à Virgem Maria. Ele A escolheu, mais uma vez, como embaixatriz, para advertir os homens e prepará-los para as horas amargas e terríveis da guerra. E nós, pela televisão, fomos testemunhas do sofrimento inaudito que foi infligido àquele povo que, vagueando pelas montanhas, com fome e frio, sofreu na carne as conseqüências do pecado dos homens.

No longínquo 1984, dirigi-me para lá com mais três sacerdotes meus amigos. Em Grenoble, França, nosso carro foi assaltado em pleno dia, numa das ruas mais movimentadas da cidade. Por isso, tivemos que conseguir novo passaporte no consulado de Lyon, a cerca de 200 km.

Depois, em Veneza, estivemos à espera de uns amigos que se atrasaram também um dia, por terem sido roubados no próprio hotel. Deste modo, atrasamos a viagem por dois dias, o que nos impediu de irmos à então Iugoslávia e, conse-qüentemente,  a Medjugorje. Fomos somente até à cidade de Ljubliana, Norte da então Iugoslávia (hoje capital da Eslovê-nia), onde aproveitamos para visitar as maravilhosas grutas de Prostoyna. Assim, consolamo-nos uns aos outros dizendo que já pertencíamos à Obra de Maria e que o dom recebido já era uma grande graça de Maria e, portanto, podíamos abrir mão daquela.

Passaram-se os anos e, contra tudo o que se poderia esperar, Nossa Senhora continua ainda aparecendo diariamente a 3 daqueles jovens: Maria Pavlovic, Ivan e Vicka.

De forma inesperada, recebi um convite para participar de um retiro com 270 sacerdotes do mundo inteiro naquele lugar abençoado. Ao notar que as inscrições iriam até o dia 20 de Maio, dia do aniversário da minha ordenação sacerdotal, vi nessa data um sinal de Maria.

Após duas noites de vigília, cheguei no dia 2 de julho de 2001 a Medjugorje, onde,  pelas 18 horas locais, teve início para mim uma nova fase da vida. Não era por acaso que, depois de aproximadamente dois anos que me empenhara em rezar pelos que não crêem e pela conversão dos pecadores, especialmente os da minha família e meus paroquianos, eu chegava a Medjugorje, exatamente no segundo dia do mês, dia em que Nossa Senhora reza pelos que não crêem. Depois dum excelente e caloroso acolhimento, dirigimo-nos para o altar circular que fica atrás da Igreja. Estando já no meu lugar, paramentado para a Eucaristia, ao ver uma das irmãs da comunidade conduzindo os sacerdotes, um a um, para o local da celebração, parecia-me ver realmente e com clareza a própria Virgem Maria conduzindo os sacerdotes a Jesus. Aquela cena era tão forte, que ficou gravada em minha alma como uma experiência interior inesquecível, impelindo-me a tomar um rumo diferente na minha vida de sacerdote.

Ao chegar a hora da aparição, os sinos tocaram e tudo ficou em silêncio, ouvindo-se apenas uma música celestial tocada por violino. Nada vi, mas senti profundamente em minha alma que o Céu descera à terra e eu era envolvido nessa atmosfera de paz divina que ainda hoje conservo como um dom impagável de Deus. A oração demorou três horas, das 18h às 21 horas.

Ali, no silêncio daquele presbitério tão universal, senti que Nossa Senhora me pedia para ser fiel às três horas de oração por dia e ao jejum a pão e água nas quartas e sextas-feiras, pela conversão dos pecadores, incluindo uma hora de oração diante do Santíssimo como preparação para a Eucaristia diária. Assim, naquele mesmo dia e àquela hora, decidi-me a trilhar um caminho novo, pleno das bênçãos e graças de Nossa Senhora.

Passados dois meses de fidelidade a esse compromisso assumido, posso dizer que é impagável a paz que experimento na alma a partir daquele dia.

Desde então, sinto-me mergulhado numa nova e divina atmosfera, envolvido como que por uma nuvem que me protege, uma espécie de permanente comunhão com Deus.

Depois de Medjugorje, como instrumento de comunicação de Deus com os homens, sinto-me um canal das graças de Deus um pouco mais desobstruído, a ponto de ver mais freqüentemente a graça do Senhor passando por meio de mim para o Seu povo santo, o Seu povo eleito.

Medjugorje é um lugar privilegiado, onde muitas pessoas sentem a proximidade de Deus, a força da intercessão da Virgem e encontram a paz.

Muitas vezes rezei a jaculatória "Rainha da Paz", mas sempre pensei na guerra entre os povos. Hoje, pelo dom da paz que Maria me concedeu, quando rezo à Rainha da Paz, não penso na necessidade de paz entre os povos, mas na que é necessária ao coração de tantos irmãos. Essa paz pode-se receber de Nossa Senhora naquele Santuário, também chamado em nossos dias como "confessionário do mundo", "escola de oração" e "santuário da alma".

A paz é dom de Deus que em Medjugorje vem por meio de Maria. A paz tão necessária aos corações cultiva-se pela oração com o coração, prolongada, sem a dependência do relógio.

A paz cultiva-se pela mortificação dos sentidos, a paz cultiva-se pelo jejum.

Quando uma pessoa está doente do corpo, faz tudo e mais alguma coisa para alcançar a saúde desejada. Por que não se faz o mesmo para a alma quando esta está mergulhada no pecado? Por que se há de pensar só no corpo e não se pensa na saúde total do homem que é uma unidade de corpo e alma? Por que há de estar o homem dividido?

O demônio divide, Deus une. O homem, para possuir a paz, precisa não só de saúde no corpo, mas de saúde na alma, precisa de paz no coração.

Rainha de Paz, trazei a paz ao coração do mundo, trazei a paz ao coração do homem contemporâneo.

Durante muitos anos, ocupei-me demasiadamente com as atividades apostólicas e a oração ficava em segundo plano, por isso trabalhei muito e com poucos resultados. Hoje tenho vergonha de ter rezado tão pouco ao longo da minha vida sacerdotal, embora não me recorde de ter passado um dia sem rezar. Depois de Jesus e de Maria, estou imensamente grato a todos os leigos que rezaram e se sacrificaram para que alguns sacerdotes de Portugal pudessem obter de Deus tão grande graça. Que Deus os recompense por esta nova vida que nasceu em mim e nos outros colegas sacerdotes.

Pe. Zeferino A. Barros (Eco de Maria)

Eco de Medjugorje – 189